“Vocês examinam as Escrituras, porque julgam ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (João 5:39).
Jesus e os autores do Novo Testamento citam o Antigo Testamento (AT) cerca de 300 vezes. Isso provê fundamento para que os cristãos considerem o AT como parte integrante da Bíblia, a Palavra de Deus. Há várias passagens nos evangelhos que mostram Jesus explicando trechos no Antigo Testamento e anunciando o cumprimento das profecias relacionadas ao texto. Um exemplo disso é a passagem do Evangelho de Lucas 4:16-19, em que Jesus leu e explicou os versículos 1 e 2 do capítulo 61 do livro do profeta Isaías:
“Jesus foi para Nazaré, onde havia sido criado. Num sábado, entrou na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Então lhe deram o livro do profeta Isaías. E, abrindo o livro, achou o lugar onde está escrito: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e proclamar o ano aceitável do Senhor.’
Tendo fechado o livro, Jesus o devolveu ao assistente e sentou-se. Todos na sinagoga tinham os olhos fixos nele.
Então Jesus começou a dizer:
— Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabam de ouvir.
O encontro com Jesus levou os cristãos primitivos, em sua maioria judeus, a examinar o Antigo Testamento. Ali, eles descobriram uma mensagem maior e abrangente endereçada a todo o mundo, a qual Israel não havia aceitado. Deus havia prometido a Abraão que todos os povos da Terra seriam abençoados nele (Gênesis 12: 3), e, embora Jesus falasse às ovelhas perdidas de Israel, seu alcance era maior. Desde o início, portanto, os apóstolos pregaram a ressurreição de Jesus como cumprimento do propósito divino anunciado no Antigo Testamento. O Messias, uma vez crucificado, foi exaltado acima do universo, e fora desse milagre, disseram os apóstolos, não há evangelho, nem salvação, nem Igreja.
Por volta do ano 190 d.C. as igrejas claramente aceitaram a ideia de colocar as Escrituras cristãs (Novo Testamento) ao lado das Escrituras judaicas (Antigo Testamento). No Novo Testamento são cumpridas as promessas do AT
Ao manter o Antigo Testamento, a Igreja pontuou dois fatos importantes.
O Deus Criador e o Deus Remidor é a mesma pessoa. O mesmo Deus que fez o mundo escolheu Israel e procurou recuperar sua criação por meio de Jesus.
Ao conservar o Antigo Testamento, a Igreja enfatizou a importância da história para a fé cristã, pois o cristianismo é uma religião histórica não apenas no sentido de que vem do passado ou que está associado a um personagem histórico chamado Jesus, mas por decorrer da crença de que, dentro da própria história, em determinado lugar e em determinado momento, o próprio Deus envolveu-se nos assuntos humanos. Isso significa que viver pela fé, para o cristão, inclui enfrentar os quebra-cabeças da existência humana — todos os “Por quê, Senhor?” que a vida apresenta — e continuar crendo que os planos de Deus são bons.
S. Rinaldi
Fonte:
Shelley, Bruce. História do cristianismo . Thomas Nelson Brasil. Edição do Kindle.